Avaliação na educação infantil – segundo HoffmannPenso que nós professores temos que ultrapassar as fichas classificatórias...Hoffmann (2002) É urgente analisar o significado da avaliação no contexto próprio da educação infantil, resgatando os seus pressupostos básicos e evitando tenazmente seguir modelos da prática classificatória da escola tradicional. É possível fugir de quaisquer procedimentos classificatórios e seletivos que imperam no ensino regular.É preciso, portanto, re-significar a avaliação em educação infantil como acompanhamento e oportunização ao desenvolvimento máximo possível de cada criança, assegurando alguns privilégios próprios dessa instância educativa, tais como o não-atrelamento ao controle burocrático do sistema oficial de ensino em termos de avaliação, e a autonomia em relação à estrutura curricular (p.14).
É importante pensarmos sobre isso...
Hoffmann (2002)
Daí, a extrema importância, no meu entender, de se ultrapassar fichas classificatórias de avaliação e pareceres descritivos superficiais e comportamentalistas, e se alcançar a elaboração de relatórios que contemplem o próprio dinamismo do processo de desenvolvimento infantil. Relatórios que contemplem o dia-a-dia da criança e do professor, que possibilitem acompanhar a história de vida da criança numa instituição de forma a representar o elo entre as ações educativas desencadeadas por educadores que trabalhem com ela nos diferentes níveis de educação infantil (p. 50).
Acreditamos que a autora propõe o uso de relatórios pelos professores para avaliar a criança, o que para muitos de nós é um “bicho de sete cabeças”. O que ela enfatiza é que devemos aprender a descrever em vez de comparar a criança, como nas chamadas “fichas de avaliação” acontece. Bassedas, Huguet e Solé (1999), sobre isso, afirmam: “pensamos que um comentário individualizado feito pela professora sempre é mais rico do que uma cruz ou um sublinhado nas pautas já impressas em um papel” (p.188). Concordamos com as autoras quando dizem da riqueza deste registro individual do aluno. Acreditamos que esta forma de se expressar, principalmente para os pais, é muito bem-vinda, pois lerão algo que fala exclusivamente do seu filho. E verão no professor alguém que se preocupa com o crescimento e desenvolvimento da sua criança.
Quando documentamos, somos co-construtores das vidas das crianças e podemos perceber como nos relacionamos com a criança de outra maneira. Freire (2001) diz que “o registro permite romper a anestesia diante de um cotidiano cego, passivo ou compulsivo, porque obriga a pensar”. A nossas descrições, documentações e observações são construídas e são formas as quais podemos utilizar para conhecer a criança.
A documentação, a observação e o registro são aspectos que devemos desenvolver em nossa prática pedagógica, pois são meios que utilizamos para ver a criança no seu grupo e individualmente, lançando mão de instrumentos que possibilitem identificar situações que nos chamam a atenção a respeito da criança. Também que, possivelmente, temos que perceber se nosso planejamento pedagógico contempla o nível de desenvolvimento proposto naquele momento. Sendo assim, estes aspectos sobre a criança realmente nos obrigam a pensar e a refletir o dia-a-dia da sala de aula.
Vários autores sugerem alguns aspectos importantes de que um professor deve “lançar mão” para então poder elaborar um relatório de avaliação da criança. Rovira & Peix (2004) esclarecem:
A observação estará relacionada com os seguintes aspectos: Evolução integral da criança: aspectos físicos, psicobiológicos, maturativos. Condutas atitudinais da criança no que se refere às diferentes atividades, ao espaço, a seu ambiente, à escola, às pessoas. Relações sociais e afetivas com as outras crianças, com os adultos. Hábitos pessoais, sociais e de trabalho. Estratégias de aprendizagem das diversas áreas e linguagens curriculares. O jogo nas diferentes manifestações: livre ou dirigido. Atitude do professor em relação ao próprio grupo e a outros adultos. As relações escola-família. Características que oferece o ambiente escolar: distâncias, meios de transporte, componentes socioculturais. A própria escola, os recursos, os materiais, sua funcionalidade, sua utilização (p.388).
Acredito que quanto maior for a consciência das nossas práticas pedagógicas, maior a nossa possibilidade de mudar por meio da construção de um novo espaço, de uma nova proposta de avaliação. Isto pressupõe que nós devemos nos envolver em uma auto-reflexão contínua, levando tudo isso como um desafio para a nossa própria documentação pedagógica, e a maneira como temos nos constituído como professores.
Entendo que devemos refletir a nossa prática e o nosso discurso de forma crítica, pois, por meio da observação e documentação do nosso fazer, podemos ver e questionar a nossa imagem que temos de criança, os discursos que incorporamos e produzimos e que voz, direitos e posição a criança adquiriu em nossas instituições dedicadas à primeira infância.